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Sophia Helen

O trabalho do artista transdisciplinar Christian Moreira possui raízes profundas em suas origens. Natural da cidade de Sabará, em Minas Gerais, o artista cresceu convivendo com as paisagens do cerrado, que se transfiguram poeticamente em suas produções artísticas. Realizados principalmente a partir de fotografias e registros antigos pessoais, seus trabalhos materializam memórias em suportes digitais, aquarela e pintura a óleo.
Entre as poéticas mais marcantes de sua obra, destaca-se a vívida memória de infância, compartilhada com seu irmão, quando juntos plantaram uma semente de Hipomeia nas ruas de terra vermelha, tingidas pela exploração do minério de ferro. O lugar de identidade e reconhecimento de suas memórias em Sabará se funde com a fauna e flora do cerrado, representadas principalmente pela figura do lobo-guará, animal incompreendido pelos habitantes locais e, muitas vezes, associado a crenças de mau presságio. O artista ressignifica a imagem do lobo-guará como símbolo de resistência, entrelaçando-o com seu desejo de reescrever a própria história.
Contrastando com essa poética de resistência, seus traços delicados e belos dão vida às memórias com as cores bordô, vermelho e verde. Chamado pejorativamente de “pé vermelho”, o artista sempre se deparou com as duras consequências da exploração mineral em sua cidade. O vermelho aparece na terra, nos céus do crepúsculo e nas plantas manchadas de minério, mas também como representação do cerrado, do lobo-guará e do pau-brasil. Já o verde, que resiste ao vermelho, emerge nas plantas, nas árvores e na vegetação rasteira.
A representação imagética de pessoas também se faz presente em suas pinturas a óleo, marcadas pelo afeto e pelo reconhecimento mútuo, ainda vinculados às memórias de sua identidade de origem. O trabalho de Christian desenvolve reflexões relevantes para a contemporaneidade e convida o público a adentrar e viajar por suas paisagens oníricas — um espaço que parece ser compartilhado por todos nós, mineiros, enquanto terra de horizontes, natureza e resistência.
Sophia Helen é curadora, com formação em Estética e cursando Filosofia pela UFMG, além de especialização em Curadoria pelo CEFART. Atua como educadora no CCBB-BH, desenvolvendo projetos de mediação cultural e curadoria para ações educativas. Em 2023, realizou um intercâmbio na Hankuk University of Foreign Studies, na Coreia do Sul. Também escreve textos críticos e realiza acompanhamento curatorial para artistas.
